Paulo Sousa, Jorge Jesus e a 'vergonhosa' briga de treinadores que prejudica o Flamengo

A pressão sobre o atual titular Sousa só aumentou depois que o favorito de alguns torcedores, Jesus, afirmou que adoraria a chance de voltar ao Rio

O time carioca pode ter chegado às oitavas de final da Copa Libertadores sem suar a camisa, mas isso não é suficiente para seus torcedores mais exigentes, que querem ver mais de seus heróis ou, se não, mudanças rápidas no elenco e diretoria.

No meio da tempestade estão dois treinadores portugueses, um lembrado com carinho no Mengão e cuja presença ainda espreita, e outro cujo tempo no comando pode estar prestes a terminar.

Graças à fantástica passagem de Jorge Jesus pelo Flamengo e às vitórias consecutivas de Abel Ferreira na Libertadores no comando do Palmeiras, os treinadores dos primos lusófonos do Brasil do outro lado do Atlântico estão muito em voga nos principais clubes do país.

Ferreira ainda está em São Paulo, bem no topo da Série A, ao mesmo tempo em que começou a última defesa do Palmeiras na Copa com 18 pontos perfeitos em 18 para chegar à fase eliminatória com facilidade.

Em outros lugares, o Corinthians recorreu ao ex-técnico do Porto, Vitor Pereira, enquanto o Botafogo também nomeou um treinador com história no clube, Luis Castro.

O Flamengo, por sua vez, procurou imitar os anos de glória de Jesus recorrendo a Paulo Sousa, que não deixou que seus compromissos anteriores com a seleção da Polônia e as eliminatórias iminentes da Copa do Mundo impedissem um novo começo no ensolarado Rio de Janeiro.

O meio-campista ex-Juventus, Borussia Dortmund, Inter e Portugal já está, no entanto, andando na corda bamba.

Em seu primeiro mês no comando, o Flamengo sofreu duas derrotas finais, na Supercopa e no Campeonato Carioca, e sua campanha na Série A começou de forma distintamente abaixo do esperado, empatando três e perdendo dois dos seis primeiros jogos, ficando em 16º lugar.

O Flamengo dificilmente é o primeiro grande clube brasileiro a começar mal no campeonato, distraído como estava pelos compromissos do grupo da Libertadores. Mas Sousa tinha outro adversário improvável para enfrentar: ninguém menos que seu ilustre antecessor Jesus, que abertamente elogiou seu trabalho na mídia em uma violação surpreendente do código dos treinadores.

“Quero voltar [ao Flamengo] sim”, disse Jesus ao UOL. “Mas não depende só de mim. Posso esperar até 20 de maio. Depois disso, tenho que decidir o que fazer da minha vida.

“Essa equipe ainda me toca. Incomoda-me vê-los em apuros. Tenho certeza de que, se tivesse continuado, teríamos alcançado um longo período de domínio aqui. Estávamos bem à frente dos outros clubes.”

Os comentários de Jesus foram recebidos com alegria por grande parte da torcida do Flamengo, silêncio guardado na sala de reuniões e fúria nua do círculo íntimo de Sousa.

“Vimos um momento lamentável. Só quem está perturbado e desesperado pode mostrar tamanha falta de ética, falta de respeito e falta de profissionalismo”, disparou o agente de Sousa, Hugo Cajuda, em comunicado.

“Apesar de sua longa história, a pessoa acima mencionada consegue subir outro nível neste episódio vergonhoso.

“É uma continuação do ‘eu’ sempre ofuscando o ‘nós’ e tentando justificar tudo. As justificações e desculpas devem ser dadas aos adeptos do Benfica, que viram gastos 150 milhões de euros e zero troféus (quando Jesus estava no comando)!”

De qualquer forma, Jesus está agora fora da mesa, tendo aceitado uma oferta para treinar o Fenerbahce na próxima temporada da Liga dos Campeões. Mas isso dificilmente aliviou a pressão sobre Sousa.

Os torcedores continuam cantando o nome de Jesus nas arquibancadas do Maracanã e, no domingo, um pequeno grupo se dirigiu à sede do clube, no bairro da Gávea, para exigir a demissão do português, com lenços brancos e faixas para sublinhar seu ponto.

Torcedores do #Flamengo pedem a saída de Paulo Sousa com lenços brancos. pic.twitter.com/vP5zmuCgE4
— Flazoeiro (@flazoeiro_) May 29, 2022

Uma vitória subsequente por 2 a 1 sobre o Fluminense, no clássico, graças a uma atuação de gala do goleiro Hugo, que vinha sido muito criticado, e aos gols de Gabigol e Andreas pereira, podem aliviar as tensões em torno do clube.

O Flamengo venceu o clássico por 2×1 neste domingo (29 de maio)

Mas Sousa ainda tem muito trabalho para convencer seus detratores de que pode restaurar os dias de glória de seu compatriota.

O trabalho do Flamengo forneceu uma espécie de cálice envenenado nos últimos anos. Após a saída de Jesus em 2020, Domenec Torrent, Rogério Ceni e Renato Gaucho entraram e saíram do banco, não conseguindo manter a trilha de glória que caracterizou o ano do veterano no comando.

Cada um deles tinha seu próprio portifolio. Torrent, anos de experiência como número 2 de Pep Guardiola; Ceni, prestígio indiscutível de seus dias de goleiro no São Paulo; Enquanto Renato havia levantado a Libertadores com o Grêmio e levado o Mengão à final de 2021, onde perdeu por pouco para o Palmeiras.

Mas nenhum desse trio conseguiu obter sucesso instantâneo, e assim seus dias estavam contados, enquanto o espectro de seu antecessor continuava a assomar.

Sousa sabe que pode ser o próximo no cepo, mas parece determinado a lutar até o fim, e apesar do início decepcionante no Brasil